quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Xô Episiotomia!

Massagem perineal!


Quando pensamos em como se pode evitar a episiotomia no parto normal, raramente pensamos em alguma coisa além do que os médicos ou as enfermeiras podem fazer por nós. Há muita coisa que podemos fazer por nós mesmas!

 
Fique amiga dela (leia a apostila - http://www.mulheres.org.br/fiqueamigadela/pdf/cartilha.pdf )

A massagem no períneo no período pré-natal tem-se mostrado eficaz na prevenção da necessidade da episiotomia e na diminuição das lacerações que a mulher pode ter durante o parto.

Essa técnica é usada para ajudar no alongamento/flexibilidade e preparar a pele do períneo (parte de pele, músculos etc. entre a vagina e o ânus) para o parto.

Essa massagem não vai apenas preparar o tecido do seu corpo, mas vai também permitir que você conheça e aprenda sobre as sensações do parto e como controlar esses poderosos músculos. Este conhecimento a auxiliará ao preparar-se para dar à luz o seu bebé. O conhecimento do que você sente nessa região do corpo vai ajudá-la a manter-se relaxada e a relaxar o períneo no parto e também durante outros exames vaginais que tenha que fazer em sua vida.

* existe um video no youtube que mostra de forma rápida como deve ser feita a massagem : segue o link : http://www.youtube.com/watch?v=rd3t0jm9ez4

INSTRUÇÕES:
- Encontre um lugar onde se possa sentar e estar sozinha, ou com seu parceiro, ininterruptamente.

- Tente ver seu períneo com ajuda de um espelho, note como ele é. Nem sempre será necessário um espelho para essa tarefa!

- Pode usar compressas com toalhas mornas no períneo por 10 minutos, ou tomar um banho morno (de banheira, assento, ou chuveiro, em último caso), caso precise relaxar.

- Lave as suas mãos e peça ao seu companheiro para fazê-lo também, caso ele a ajude nas massagens.

- Lubrifique seus dedos polegares e o períneo. Você pode usar muitos tipos de lubrificantes: Gel Lubrificante Íntimo (encontrado nos hipermercados e farmácias), KY Gel®, óleo de vitamina E, óleo vegetal puro (óleo de semente de uva é uma boa indicação!), etc.

- Coloque seus dedos polegares um pouco dentro de sua vagina, empurre-os para baixo e pressione para os lados. Deve sentir um leve estiramento, formigamento, ou uma leve queimação, mas nada que seja dolorido. Mantenha esse movimento por 2 minutos ou até que região fique levemente adormecida.

- Se sofreu uma episiotomia ou lacerações prévias, preste especial atenção ao tecido de cicatrização que, geralmente, não é tão elástico e é onde a massagem deve ser feita mais intensamente, com cuidado.

- Massageie em volta e por dentro da região mais externa da vagina e seus tecidos, onde ela se abre, e mantenha sempre a lubrificação.

- Use seus polegares para puxar um pouco os tecidos, forçando-os a abrirem-se, imagine como seria se a cabeça do seu bebé estivesse fazendo esse movimento na hora do parto.

- Se seu parceiro estiver fazendo a massagem, pode ser muito útil que ele use os polegares. A sensação pode ser mais bem percebida por você, mas não deixe de guiá-lo com suas sensações para que ele saiba qual a pressão que deve utilizar. Nesta massagem, quando ela está sendo feita pelas primeiras vezes, é comum que seja possível usar somente um dedo, até que a musculatura seja trabalhada e possa ser estendida.

ATENÇÃO:

1. Evite mexer no ou abrir o orifício da uretra (logo acima da vagina) para evitar infecções urinárias.
2. Não faça massagens no períneo se você tiver lesões ativas de herpes (isso pode causar o aumento da área das lesões).
3. Pode começar essas massagens em torno da 34a semana de gravidez. Se já passou da 34a semana e ainda não começou, não desista! A massagem pode trazer-lhe benefícios ainda assim. Pode fazê-la pelo menos uma vez por dia.
4. Lembre-se que a massagem sozinha não vai proteger seu períneo, mas ela é parte de um grande esquema. Escolher uma posição vertical para parir (de cócoras, de joelhos, sentada etc.) favorece a distribuição de pressão no períneo. Se escolher parir deitada de lado, isso também reduz muito a pressão no períneo. Deitada de costas, totalmente na horizontal, é a posição para parir em que há mais chances de se provocar lacerações e necessidade de episiotomia.

fonte: Humpar 

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Amamentação em livre demanda: O que é?





Do Livro: A Frequência e a Duração das Mamadas, do livro “Un Regalo Para Toda La Vida” do Dr. Carlos González


Provavelmente, você já escutou que o peito se dá a demanda. Mas é fácil que lhe tenham explicado mal. 

É muito difícil erradicar da nossa cultura essa obsessão coletiva com os horários das mamadas. Parece que sempre foi assim. Alguns, ao ouvir falar da livre demanda, acham que é um invento dos hippies e com semelhante despropósito vamos criar uma geração de selvagens indisciplinados. Mas é justo o contrário, dar o peito à demanda é que sempre foi assim e os horários são uma invenção moderna. É verdade que algum médico romano já havia falado de horários, mas foi um caso isolado e naquele tempo as mães não perguntavam aos médicos como tinham que dar o peito. Praticamente todos os médicos do séc.XVIII recomendavam a amamentação a demanda (ou não recomendavam nada, porque, como a amamentação não é uma doença, os médicos não se ocupavam muito desse tema). Só a princípios do séc.XX começaram quase todos os médicos a recomendar um horário e mesmo assim poucas mães o seguiam, porque não havia saúde pública e os pobres não iam ao médico se não estivessem muito doentes. Só quando as visitas ao pediatras começaram a converter-se numa cerimônia regular, em meados do século passado, começaram as mães a tentar seguir um horário, com péssimos resultados. 

Muita gente (mães, familiares, médicos ou enfermeiras) lê ou ouve isso de livre demanda e pensa: “Sim, claro, não é necessário ser rígidos com as três horas. Se chora 15 min. antes, pode-se dar o peito e também não é necessário acordá-lo se está dormindo”. Ou então: “Sim, claro, a demanda, como sempre disse, nunca antes de duas horas e meia nem mais tarde que quatro”. Tudo isso não é a demanda; são só horários flexíveis, que claro que não são tão ruins como os horários rígidos, mas continuam causando problemas. Livre demanda significa em qualquer momento, sem olhar o relógio, sem pensar no tempo, tanto se o bebê mamou faz 5 horas quanto se mamou faz 5 minutos. 

Mas, como pode ter fome aos cinco minutos? Imagine que está criando o seu filho com mamadeira. Ele costuma tomar 150ml e, de repente, um dia, o bebê só toma 70 ml. Se aos cinco minutos, parece que tem fome, você dá os 80 ml ou pensa: “Como pode ter fome se faz só cinco minutos que tomou a mamadeira?”. Tenho certeza que todas as mães dariam a mamadeira sem duvidar um único minuto, de fato, muitas passariam mais de uma hora tentando meter a mamadeira na boca do bebê a cada cinco minutos. Pois bem, se um bebê solta o peito e ao cabo de cinco minutos parece ter fome, pode ser que só tenha mamado a metade. Talvez tenha engolido ar e se sentia incômodo e agora que arrotou já pode continuar mamando. Talvez tenha se distraído ao ver uma mosca e agora a mosca já se foi e ele percebeu que ainda tem fome. Talvez tenha se enganado, achou que estava satisfeito e agora mudou de opinião. Em todo caso, só esse bebê, nesse momento, pode decidir se precisa mamar ou não. Um especialista que escreveu um livro na sua casa no ano passado ou faz um século, ou a pediatra que viu o bebê na quinta passada e lhe recomendou um horário não podem saber que seu filho hoje, às 14:45 da tarde ia ter fome. Isso seria atribuir-lhes poderes sobrenaturais. 

E qual o tempo máximo? É preciso acordá-los? Quantas horas podem estar sem mamar? Em princípio, as horas que queira. Um bebê saudável, que engorda normalmente, não precisa ser acordado. É distinto o caso de um bebê que está doente ou não aumenta normalmente de peso. Um bebê pode estar tão fraco que não tem força para pedir o peito. Nesses casos, é preciso oferecer o peito com mais frequência. Isso também pode aplicar-se aos recém-nascidos. 

Quando o bebê dorme muito, muitas vezes não é preciso acordá-lo, mas sim estar atento aos seus sinais de fome. A demanda não significa dar o peito cada vez que chore. O choro é um sinal tardio de fome. Do momento que uma criança maior tenha fome até que chore podem passar várias horas. Do momento que um bebê tem fome até que chore podem passar alguns minutos, ou até mais, dependendo da personalidade do bebê. Mas é raro, que nada mais ter fome, comece a chorar. Antes disso terá mostrado sinais precoces de fome: uma mudança no nível de atividade (acordar, mexer-se), movimentos com a boca, movimentos de procura com a cabeça, barulhinhos, por as mãozinhas na boca, então, é quando se deve pô-lo no peito, não esperar que chorem. Se um bebê que está fraco porque perdeu peso está sozinho no seu quarto, fora da vista dos seus pais, é provável que dê estes sinais e ninguém perceba e ele volte a dormir por cansaço. 

Dar o peito à demanda não significa que mame o que mame o bebê, sempre seja normal. Pois bem, também existem valores normais para a frequência e a duração das mamadas. O problema é que não sabemos quais os valores normais para o ser humanos. Porque o ser humano vive em sociedades, em civilizações, com nossas crenças e normas. As espanholas, há trinta anos, davam o peito dez minutos cada quatro horas. Não faziam o que queriam o normal, mas sim o que havia indicado o médico ou o livro. Se no Alto Orinoco existe uma tribo que dá o peito cinco minutos a cada hora e meia, isso é o natural ou é o que recomenda o xamã da tribo? 

Inclusive dentro da Europa há diferenças. Num estudo multinacional sobre crescimento dos bebês, observaram com surpresa que o número médio de mamadas ao dia aos dois meses de idade ia desde 5,7 em Rostock (Alemanha) até 8,5 no Porto, passando por 6,5 em Madrid ou 7,2 em Barcelona. Mulheres de cultura muito similar, que supostamente estão dando o peito à demanda. Como é possível que os bebês demandem mais peito num país que no outro? 

A resposta é simples, mas inquietante. Acontece que a amamentação a demanda, o conceito em torno do qual gira esse livro não existe. Não existe porque os bebês não sabem falar. Se um bebê falasse, um observador imparcial poderia certificar: “Efetivamente, essa mãe está dando o peito à demanda”, porque às 11:23 a menina disse: “Mamãe, peito” e às 11:41 voltou a pedir, mas não lhe deu o peito até que pediu por terceira vez, às 11:57. Como os bebês não falam, fica a critério da mãe decidir quando está demandando ou não. Dois bebês choram, uma mãe lhe dá o peito no mesmo instante e a outra olha o relógio e diz: “Fome não é, porque não faz nem uma hora e meia que mamou, devem ser os dentes” e lhe dá um mordedor. Dois bebês mexem a cabecinha e a boca procurando peito. Uma mãe dá o peito, a outra nem percebe porque o bebê estava no berço e a mãe não o via. Dois bebês dizem: “angu”. Uma mãe pensa: “Ui, já acordou” e o põe no peito e a outra o olha embevecida e diz: “que lindo, já diz angu!”. 

Por último, recordar que à demanda não só significa quando o bebê quer, mas também quando a mãe quer. É claro que as necessidades de um recém-nascido são totalmente prioritárias. Mas, à medida que o bebê cresce cada vez sua mãe tem mais possibilidades de decidir quando dá o peito ou não. Vale ressaltar que um horário rígido é inadequado em qualquer idade e sempre convém que o bebê decida a maioria das mamadas. Mas não há problemas em adiantar ou atrasar um pouco alguma das mamadas. 

Assim que, ao contrário do que muita gente pensa, a livre demanda não é uma escravidão, mas sim uma liberação para a mãe. A maioria das vezes pode fazer o que quer o seu filho, de modo que o bebê está feliz e não chora e, portanto, a mãe também está feliz e não chora. E de vez em quando pode fazer o que ela quer. A escravidão é o relógio. 

Amamentação a La Carte 

Amamentação em intervalos pré-determinados é um mito. Houve um tempo em que se pensava que bebês deveriam mamar a cada 3 horas, ou a cada 4 horas e por exatamente 10 minutos de cada lado! Você já se perguntou o porquê de 10 minutos e não 9 ou 11? 

Claro, adultos nunca comem por “10 minutos em cada prato a cada 4 horas”. Quanto tempo a gente leva para terminar o prato? Isso depende do quão rápido a gente come. É o mesmo com bebês. Se eles mamam rápido, podem gastar menos que 10 minutos, mas se mamam devagar, podem gastar bem mais. 

Os adultos comem em horários pré-determinados somente porque as obrigações de trabalho forçam-nos a organizar suas refeições desta forma. Normalmente, nos dias de folga, a rotina usual é mudada sem qualquer dano à saúde. Contudo, ainda existem pessoas que acreditam que os bebês precisam ser acostumados a mamadas de horário e fazem referências vagas à disciplina ou boa digestão. 

Para um adulto, a comida pode esperar. Nosso metabolismo permite que esperemos por uma refeição e a comida é exatamente a mesma agora ou daqui à uma hora. Mas seu bebê não pode esperar. Sua fome é urgente e a comida dele muda se a refeição se atrasa. O leite humano não é um alimento morto, mas uma matéria viva em constante processo de mudança. A quantidade de gordura no leite aumenta à medida que a amamentação progride. O leite do início da mamada tem baixo conteúdo gorduroso e o leite do final é altamente rico em gordura; chegando a ser 5 vezes mais gordo. 

A média de gordura em qualquer mamada depende de quatro fatores: 

1. Intervalo da mamada anterior (quanto maior o intervalo, menor a quantidade de gordura); 

2. Concentração de gordura no final da mamada anterior; 

3. Quantidade de leite ingerido na última mamada; 

4. Quantidade de leite ingerido nesta mamada. 

Quando a criança mama os dois seios, ela raramente esvazia o segundo seio. Para simplificar, basta dizer que ela toma 2/3 de leite desnatado e 1/3 de creme de leite. Contudo, a criança que mama somente um seio por mamada toma ½ leite desnatado e ½ creme de leite. Se ela toma um leite menos gordo (menos calórico), ela pode aceitar grandes volumes e consumir mais proteínas. Então o bebê que mama 50 ml de cada seio não mama o mesmo que um que toma 100 ml de um seio só; e a dieta do bebê que toma 80 ml a cada 2 horas é totalmente diferente da dieta do bebê que toma 160 ml a cada 4 horas.

Os fatores que controlam a composição do leite ainda estão sendo estudados e ainda não se sabe muita coisa. Por exemplo, sabe-se que um dos seios geralmente produz mais leite, com maior concentração de proteínas que o outro. Talvez seja só coincidência ou talvez seu filho decida isso, dando preferência a um seio em relação ao outro, escolhendo uma refeição com mais ou com menos calorias. 

E você pensou que seu bebê mamasse sempre o mesmo leite? Você pensava que era entediante passar meses e meses tomando somente leite? Isso não é verdade com o leite materno. Seu bebê tem à disposição dele um grande cardápio para escolher, desde sopa leve a uma sobremesa bem cremosa. Uma vez que o seio não fala (nem pode entender o bebê), o bebê faz seu pedido de 3 formas: 

1. Pelo tanto de leite que ele toma a cada mamada (mamando por um longo ou curto tempo e com mais ou menos intensidade); 

2. Pelo intervalo entre uma mamada e outra; 

3. Mamando um ou os dois seios. 

O que seu bebê faz quando mama para obter exatamente o que ele precisa de um dia para o outro é uma obra de engenharia. O bebê tem total e perfeito controle da sua dieta, desde que ele possa mudar as variáveis de acordo com seu desejo. É isso que a livre demanda significa: deixar o bebê decidir quando ele quer mamar, por quanto tempo ele vai ficar no seio e se ele quer mamar um ou os dois seios. 

Quando o bebê não tem o direito de controlar um dos mecanismos, na maioria das vezes ele tenta mudar uma ou outra variável. Num experimento, alguns bebês foram colocados para mamar somente em um seio por mamada, durante uma semana e nos dois seios na semana seguinte (a ordem foi variável). Em teoria, os bebês teriam ingerido muito mais gordura nos dias em que mamaram somente de um lado do que quando mamaram nos dois seios. Contudo, os bebês espontaneamente modificaram a frequência e a duração das mamadas e foram capazes de ingerir quantidades similares de gordura (mas volumes diferentes de leite). 

Se o bebê não tem a chance de modificar a frequência ou duração das mamadas e ele não tem a oportunidade de decidir se quer mamar de um lado ou dos dois, ele fica perdido. Ele não consegue tomar a quantidade de leite de que precisa, mas acaba tomando o que lhe é oferecido. Se a sua dieta está muito longe das necessidades reais do bebê, ele terá problemas em ganhar apropriadamente ou passará o dia faminto e irritado. É por isso que amamentação em horários pré-estabelecidos raramente funciona e quanto mais rígido for o esquema, mais catastrófico é o resultado. Os bebês precisam mamar irregularmente, somente assim eles têm uma dieta balanceada. 

Desde o primeiro dia, embora pareça que ela está tomando somente leite, a criança está escolhendo sua dieta a partir de uma gama de opções e ela sempre escolhe sabiamente, tanto na qualidade, quanto na quantidade. 

Do livro “My Child Won’t Eat”, do Pediatra Carlos González


terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Parto com ou sem analgesia?

É sempre melhor não utilizar a analgesia, e também é sempre importante buscar informações e esclarecer os mitos para assim tomar a melhor decisão!



Por Luciana Benatti
      Um direito de todas as mulheres. É assim que o alívio da dor do parto deve ser entendido. A escolha deveria ser sempre da gestante, baseada em informações corretas e atualizadas sobre os prós e contras de cada opção. É o que se chama de escolha informada.
    No Brasil, porém, o direito de escolha é para poucas. A maioria das gestantes não tem opção. No sistema particular, quem consegue escapar da cesárea, leva obrigatoriamente a anestesia peridural “no pacote” do parto normal. No sistema público, ao contrário, a anestesia não costuma ser um recurso disponível para o trabalho de parto. Em ambos, é raro haver a alternativa dos métodos naturais, que costumam ser vistos com desconfiança.
    Na prática, portanto, decidir tomar ou não analgesia só é possível para quem pode contar com uma equipe humanizada de assistência ao parto. Nesse caso, a mulher é questionada e até ridicularizada por amigos e familiares, incapazes de entender os motivos de sua opção. E sofre ao ouvir comentários do tipo: “Para que você quer sentir dor?”, “Isso é parto de índio!”, “Você está pensando que vai aguentar, mas na hora vai implorar pela anestesia”.      Muitos ainda acha que parto humanizado é sinônimo de parto sem anestesia. “E se na hora, morrendo de dor, eu implorar por anestesia, a médica não vai me deixar tomar?”, perguntou-me tempos atrás uma amiga a quem recomendei uma obstetra humanizada. Obviamente, não há uma regra: existem partos humanizados com e sem analgesia.
    O ideal é não tomar. Por um motivo simples: todo medicamento de alívio da dor pode ter efeitos adversos, como a hipotensão da mãe (pressão sanguínea abaixo do normal), que pode levar à queda nos batimentos cardíacos do bebê e à necessidade de uma cesárea de urgência. É preciso entender que, ao interferir na evolução natural do trabalho de parto, a anestesia pode desencadear a chamada “cascata de intervenções”, que às vezes terminam num parto cirúrgico. Por outro lado, pode ser um recurso que ajuda, por exemplo, num trabalho de parto muito longo. Se a mãe já está exausta, sem forças para continuar, uma analgesia pode ser bem-vinda para que parto normal continue sendo possível.
Resumindo: trata-se de um recurso valioso, desde que usado de forma criteriosa e com o consentimento da mulher, que deve estar ciente não apenas dos benefícios, mas também dos riscos.
Métodos de alívio da dor
    Os recursos para lidar com a dor do parto se dividem em dois grupos: naturais ou medicamentosos. O primeiro inclui banho de chuveiro ou imersão, massagens, liberdade de movimentação, presença de doula e de acompanhante escolhido pela mulher. A vantagem é que não oferecem riscos e nem provocam efeitos colaterais.
    No segundo grupo, estão as analgesias. Rotineiramente usados como sinônimos, os termos analgesia e anestesia têm uma diferença fundamental: a parturiente que recebe uma analgesia consegue ficar em pé, andar, acocorar-se e sentir as contrações, ainda que com menos dor. Ao contrário, uma mulher anestesiada, embora possa se manter consciente, perde todas essas possibilidades, ficando inerte da cintura para baixo. Por isso, quando se fala em alívio para a dor do parto, a preferência é pela analgesia.
   A técnica pode variar. As alternativas mais recomendadas são a peridural ou o duplo bloqueio, que é uma combinação da raquidiana com a peridural. O uso isolado da raquidiana para analgesia de parto não é respaldado por evidências científicas.
Encare como um desafio
   O parto é uma oportunidade única de conhecer seus limites. Durante o trabalho de parto, procure se manter aberta a todas as possibilidades: você pode até duvidar, mas a verdade é que recursos como chuveiro, banheira, bola de Pilates e massagens ajudam muito. E isso já foi provado em artigos científicos! Se, depois de tentar tudo isso, você continuar achando a dor impossível de encarar, tudo bem, sem culpas ou dramas por causa disso. Só não caia na tentação de pedir a anestesia por precaução, just in case, apenas porque está disponível ou alguém ofereceu. Você estaria perdendo uma das melhores coisas da vida, que é a possibilidade de se superar, de ir além.
*Luciana Benatti é jornalista, autora do livro Parto com Amor (Panda Books) e mãe de dois meninos nascidos de parto natural.

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

DAS DOULAS COMO TESTEMUNHA




Por Mariana de Mesquita


         Nos últimos dias, uma rede de maternidades de São Paulo proibiu a entrada de doulas, profissionais que prestam suporte emocional e físico à mulher antes, durante e depois do parto. Diante da repercussão negativa na imprensa e nas redes sociais, mudaram de estratégia: a gestante teria direito a um único acompanhante no parto, devendo escolher entre a doula e o marido. A justificativa era reduzir os índices de infecção hospitalar.
Se a preocupação é essa, por que não limitam também o acesso das equipes de fotografia e filmagem? Por que não se esforçam para reduzir os altos índices de cesariana, em torno de 90%? A verdade é que o trabalho das doulas, embora respaldado pela Organização Mundial da Saúde, não se encaixa em nosso modelo de assistência obstétrica, arbitrário e centrado na figura do médico.
        Nos países desenvolvidos, com as menores taxas de mortalidade materna e fetal, o pré-natal, o parto e o pós-parto são acompanhados por obstetrizes e enfermeiras obstetras (parteiras). O médico só é chamado em casos considerados de risco.
Por aqui, o incômodo causado pela presença das doulas está ligado ao poder que elas ajudam a mulher a conquistar, o de serem donas de seus próprios partos. Mulheres que tiveram o acompanhamento de uma doula na gravidez são questionadoras, pois sabem do seu direito de decidir sobre o parto. Um perfil bem diferente do desejado por hospitais, onde a boa paciente é aquela que se recolhe à posição de coadjuvante.
         A mulher informada, ao contrário, tem nome próprio: não aceita ser infantilizada, ser chamada de "mãezinha". Não aceita soro de rotina, corte desnecessário na vagina, ser separada do seu filho sem real motivo. A mulher informada sabe que pode escolher em que posição, como, onde e com quem prefere dar à luz. Não está acima nem abaixo da autoridade médica ou do protocolo hospitalar, pois não estabelece com eles uma relação de poder. Exige apenas que tudo esteja a favor desse importante trabalho, que somente ela pode e deve executar: trazer seu filho ao mundo. 
        O casal bem informado "dá trabalho" ao hospital, pois tem consciência da violência muitas vezes imposta pelos procedimentos de rotina ao corpo e à personalidade frágeis do seu bebê. Eles pesquisaram, leram artigos científicos, conhecem as leis e sentem alívio por saber que o bebê não precisa passar por procedimentos dolorosos e solitários em seus primeiros momentos de vida, apenas porque fazem parte da rotina do hospital.
       Qual é mesmo o perigo oferecido pela doula? É que a doula é testemunha! Ela presencia e identifica a violência silenciosa e covarde contra dois seres (mãe e bebê), que, por conta da fragilidade do momento, não estão em condições de questionar.
     Mulheres acompanhadas por doulas não se deixam convencer de que o choro desesperado do recém-nascido seja bom de ouvir, sinal de saúde! De que a clássica cena da mãe presa à cama, dopada e incapacitada, faça parte do processo de ter um filho. De que o pai ver seu filho através do vidro seja normal.
         O recuo estratégico dos hospitais quanto à restrição às doulas mostra a força da voz da sociedade. Estejamos atentos às entrelinhas: agora, a doula pode entrar, desde que seja fisioterapeuta, psicóloga, enfermeira ou terapeuta. A direção clínica sabe quem é e quais são as atribuições da doula ou essa exigência é uma demostração clara da postura intransigente?
        Mas o recuo estratégico não impediu a manifestação, no domingo passado, na avenida Paulista. A marcha foi uma demonstração de que a sociedade não tolera mais esse abuso.(foto no topo da matéria)
MARIANA DE MESQUITA, 33, é doula e membro da Associação de Doulas de São Paulo (Adosp)