Vida de Doula (Relatos)


Mulheres que nasceram para parir...

Através das fotos que tirei, vou mostrar o parto de Camila. 

Tem mulher que nasce para parir. Que leva a gravidez com calma e tranquilidade, que nós Doulas sabemos que facilmente aquela mulher vai seguir seus instintos, tomar as rédeas de sua gestação e parto e que desde os primeiros 2 tracinhos no teste de gravidez, já se empodera. 

Aqui é a Camila na Marcha da humanização do parto. Ainda no começo da gestação, com barriguinha! Já lutava com amor e ternura pelo seu  direito ao parto humanizado.





Eu e a Cá na marcha do Parto Humanizado

A gestação foi passando, alguns trabalhos foram feitos, como massagem, conversas, terapia com rebozo, troca de livros e videos.

Ela escolheu que seu parto seria na casa de parto. Quando o bebe da Marcelli nasceu ( o relato abaixo) , a Camila foi comigo busca-la e já naquele momento havia feito sua escolha, o Caetano iria nascer nos braços das queridas parteiras de lá. 

O tempo foi passando, fomos nos encontrando e a barriga só crescendo. 


Ela sempre se mostrou consciente, praticava Yoga , respirava e confiava permanentemente na presença de nossa senhora do bom parto.  Isso tudo ajudou muito para o parto maravilhosa que você vai ver agora. 

Dia 23 de setembro de 2012

A Camila me liga e diz, Fê esta saindo um liquido de mim, como gotinhas, e não para a um tempão. Eu pensei, 'huuuuuum , contrações e gotinhas em sair, partoooo", eu já tinha sentido que o parto estava proximo, na quinta-feira ela tinha perdido o tampão e estava claro que o parto estava perto, mas ela estava com 36 semanas e o Cae descidia nascer antes do tempo previsto, mas escolhendo o tempo dele. Um dia antes minha intuição de Doula já me dizia que vinha parto, e eu havia deixado um recado nos celulares dela e do companheiro com o numero do lugar onde estava ( o celular não funcionava). No dia seguinte acordei cedinho, e queria ir embora urgentemente, estava a 30 minutos de SP e por alguma razão eu quis ir correndo para Sampa.... A razão era... O Caetano estava nascendo...

Quando recebi a ligação da Camila, discretamente eu insisti para que fosse até a casa de parto, eu tinha falando que era só para examinar ( ela estava preocupada por ser cedo demais) , mas eu vim correndo para SP, eu sabia que da casa de parto ela não iria embora...

Não sei explicar, parece que passei por um tunel do tempo, que me teletrasportou até SP muuuuito rapido, cheguei rapidinho na Casa de Parto e a Camila, ao meu ver , já estava na partolandia. Quando entrei no quarto, já não era a Camila que eu conhecia, era uma mulher, loba , parindo livremente utilizando como ferramenta seus instintos naturais. 

Cheguei e ela e o Bento ( seu companheiro) estavam exatamente nessa posição : 


O Bento já tinha assistido muito sobre parto, ido em palestras, queria se tornar Doulo e nos aproximamos, o que ele não sabia é que estava se preparando para ser o Doulo de sua mulher. 


Como boa praticante de Yoga, a Camila revesou durante um bom tempo entre a postura de cocoras com o apoio do Bento e durante a contração se apoiava no sofazinho. 


Veja que não é papo de Doula coruja, ela realmente viveu um momento intenso de êxtase espiritual e prazer excepcional.


Foi pura entrega, dos dois, o pai calmo, a mãe concentrada, criaram todo o ambiente perfeito para o parto calmo que celebrou a chegada de Cae. 


Hollywood tenta nos fazer acreditar que parto é loucura, essa foto mostra como o parto pode ser uma grande experiência de prazer. 

Entre gotinhas de homeopatia, idas e vindas do sofá para o colo do Bento, eu olhei a linha purpura da Camila e lá estava, uma linha enoooorme, e para nós Doula, isso pode indicar o quanto de dilatação o colo do útero pode ter alcançado ( são nossas artimanhas, já que Doula não faz exame de toque). 

Propomos a Camila um banho de chuveiro, já que as contrações estavam bem intensas e a água iria ajudar a lidar com as dores. Lá fomos nós, eu , Bento e Camila. 


Com a água morninha, a Cá foi se mantendo cada vez mais focada e me disse : "Gente, a água é maravilhosa, nossa é a melhor anestesia, que delicia"


Essa Cara diz tudo, a água levou a Cá ao puro prazer de trabalhar pelo nascimento de seu filho. Ali ela estava totalmente conectada com seus instintos e proteção. 




Com ajuda da bola, da Doula e do Paizão , o trabalho de parto foi seguindo tranquilamente , porém ráááááápido.  

Claro que as contrações apareciam , com seu ritmo permanente...


Mas era uma mistura de dor e prazer, que quando a mulher se mantém focada e sem perder o controle da situação, é muito mais fácil de serem controladas.  

Tem que respirar e manter o foco!!!


E claro, tem que ter Amor ... O hormonio Ocitocina, é um dos que controla o parto,  e o mais lindo é que o seu nome popular é O Hormonio do Amor, está relacionado com as situações de amor em nossa vida, então ter o pai no parto, não é só para ser poetico, é porque o pai/ ou alguém que faça com que o amor brote no coração da parturiente ( mulher que pari) é fundamental para o decorrer do parto. 

Depois de um tempinho no choveiro, a Cá começou a sentir frio e decidiu que era hora de sair de lá, lógico, ela estava livre para seguir seus instintos, e o bebê jajá nasceria, ela precisava procurar um ninho para parir. 


Ao sair ela pensou em deitar, como a escolha é SEMPRE da mulher, eu como doula preparei ela quentinha, , coloquei almofadas para ela ficar bem confortável e ela percebeu por ela mesmo, que não tinha nada a ver ficar deitada ( palavras dela) . A Cris, parteira da casa de parto, aproveitou o momento para realizar o segundo toque ( não tem necessidade de fazer tanto toque como se costuma fazer nos hospitais a fora) 

Surpresaaaaa ... Ela estava com dilatação total.. Ninguém acreditava, tinha sido rápido demais, não fazia nem 4 horas que ela estava lá, até a Cris ficou surpresa ( mas eu não, eu tinha visto a linha purpura, hehehe, muita gente não acredita na tese da linha purpura, mas até hoje, deu muito certo para mim)



Então a Cá foi escolher seu ninho...e o Bento mais uma vez, foi seu  apoio, seu pilar...além da bola , a melhor amiga do parto. rs


Ali a Cá relaxou, e aguardou seu bebe no mesmo sofá que serviu de amparo durante todo o tempo. 


Se entregou mais ainda e estava se preparando para se despedir da barriga e conhecer seu filho pela primeira vez. 


A cronologia do parto vai ficando meio louca, mas ficamos esperando o Caê por mais ou menos 30 minutos, até que aquela força que faz a vida nascer, brotou da Camila e trouxe a luz o Caetano. 


Primeiros momento de Caê no colo da mamãe e do papai. 


Colocou seu bebê no peito e criou o vínculo com seu filhote, dando de mamá nos primeiros momento de vida, é assim que o filho deve ser recebido, como um viajante cansado , que precisa de amparo, aconchego e leite. E quando o cordão umbilical é cortado, se rompe a ligação pelo útero, mas cria-se a ligação através do peito. Que assim seja por muito tempo. 


Enquanto a Cá paria a placenta, o Caê foi ser aquecido, e receber os primeiros exames, porque havia nascido 2 semanas antes do esperado. Nasceu rosinha, calmo e carinhoso, veja ele segurando a mão do papai, que irá segurar suas mãozinhas por toda a vida...


Papai Babão.



E familia feliz. 



A Camila aprendeu o quanto ela é instintiva e nasceu para parir e ser Mãe. 

O Bento acredito ter compreendido que a vida o preparou não apenas para ser um otimo Doulo, mas sim para ser o Doulo de sua mulher e fazer força junto com ela para nascer seu filho. 

E eu aprendi que sou uma otima fotografa de parto. rs. 

Grata mais uma vez ao universo pela dádiva de ver um bebe nascer, sei que isso é um mérito graças as minhas boas intenções com este trabalho e pelo amor verdadeiro que sinto ao presenciar uma nova familia a nascer. 

No dia seguinte nos divertindo com as histórias do parto.


Cá maravilhosamente bem com seu bebê . Feliz da vida, o sorriso não engana. 


Eu dando uma babadinha no Caê.


Bento e a Enfermeira queridissima da Casa de parto. Olha o Caê que pacotinho fofo!


Para finalizar. 

* Olha que lindo que o Caê esta, tomando banho de balde com camomila e lavanda que a Doula.


Veja o que ela escreveu sobre seu parto. Veja o que brotou de seu coração parido de amor...

" Deixe-me à natureza, por favor!
Não me rasgue, não me deite, não me injete! Não me obrigue a ver um médico. Quero parir como uma loba, uma índia da mata. Deixe-me de quatro, deixe-me de cócoras.

Por favor!

Eu quero gritar, gemer, me contorcer! Deixe-me parir em paz. Liberte-me para a espontaneidade de trazer meu filho ao mundo. Deixe-me dar o exemplo de luta, fé, instinto, naturalidade! Deixe-me ser primitiva, me agarrar à terra, enraizar.

Deixe-me aceitar e compreender a dor, vivenciá-la como um processo de amadurecimento. Deixe-me lidar com a minha sombra.

Não extraia o fruto meu! Não o arranque de mim à força! Não me corte em 7 camadas para que meu filho veja a luz! Não me apresente alternativas ao medo, não me anestesie a vida!

Eu quero meu filho massageado pelas minhas entranhas, quero sentir sua passagem, o peso de seu corpo, o círculo de fogo!

Deixe meu espírito dançar.

Sou capaz de secretar meus próprios hormônios, sou capaz de transcender a dor, ser involuntária e fisiológica!

Sou capaz de parir! Sou capaz de ser mulher!"

Camila Chaguri




DAS AMIZADES QUE NASCEM COM O PARTO

  A Marcelli foi indicada para mim, por uma amiga em comum, e a gente acabou iniciando nossas conversas pelo facebook (longas conversas), ela estava com 27 semanas quando me procurou, isso foi no final do ano passado, eu estava com a minha viagem marcada para a India, e passaria 1 mês por lá, nosso encontro aconteceria depois. 

O primeiro encontro

     Eu estava acostumada a chegar na casa de alguma família nova para dar aulas de yoga, e até em casa de amigas grávidas e sentar na mesa com toda família para debater o tal assunto esquisito que é o parto humanizado, já atendia essas amigas , conversava, exercícios e longos dias de papos sobre gestação e parto. Mas, para muitas Doulas, o caminho até a casa de uma nova gestante, o primeiro contato, é um momento de euforia e até ansiedade. Já é meu costume fazer uma boa prática de yoga, finalizando com meditação, alguns mantras, e muita oração antes de ir para casa de uma nova família, nós Doulas sabemos que existe muita expectativa, as pessoas imaginam uma senhora chegando, com ervas e incenso, ou então imaginam uma mulher ativista, dura na queda, forte, mãe de 4 filhos, que pariu na beira do rio. Isso muitas vezes intimida mulher, mas a Doula é um pouco disso tudo, e muito mais e principalmente é uma mulher, ser humano, que esta se direcionando a uma nova família, vida, que tem seus medos, sua inseguranças e porque não suas expectativas  (com o tempo a gente vai se acostumando e aprendendo a lidar com isso) . Bem, mas era eu ali, indo visitar mais uma família, ia escutar a voz da Marcelli pela primeira vez, ver ela de perto, conhecer o Felipe (seu marido) e sua casa, sua vida, seu banheiro, seu quarto, enfim, eu ia conhecer toda sua intimidade, e essa relação por mais sutil que possa parecer, traz sensações fortes. Assim que eu cheguei, toquei a campainha do vizinho sem querer.. hihihi.. sinal de boa sorte, não é possível! O vizinho abriu a porta educadamente, eu subi uma escada comprida, arrumei o cabelo, vi se minha roupa estava amassada e se eu não parecia hippie demais. Parecia tudo certo, bati na porta umas 2 vezes e lá veio a Marcelli .. Ela era bem parecida com as fotos, mas tinha um mistério naqueles olhos verdes que eu não podia ver nas fotos do facebook, ali em carne e osso, ela era mais mulher, mais madura, tinha um barrigão grande e bonito, reparei que estava com os pés levemente inchados, a boca também (já estava com 33 semanas), tinha um sorriso bonito, e foi super acolhedora com sua voz calma, o Felipe estava sentado no computador, levantou para me atender. Pude ver seu braço tatuado, seus óculos e cabelo desajeitado e um típico jeito de menino homem, ele tem um ar de maturidade no jeito de andar e falar, e apenas alguns segundos a gente olha, repara, julga (no bom sentido), e eles também deviam estar fazendo o mesmo... “Fê, senta ali, fica à vontade"... Fui entrando, olhando a casa, que tinha uma janela grande e deixava o chão de madeira iluminado, dando uma sensação de casa antiga, de casa de vó, o tipo de casa que eu adoro, clara, ampla, colchão no chão, almofadas gostosas em cima, e um incenso do Sai Baba que trazia um perfume gostoso e uma lembrança acolhedora da Índia e de meus aprendizados... Meu primeiro insight, eles não são hippies, nem praticantes de yoga ou vegetarianos, mas estavam ali, desfrutando do mesmo cheiro que tantas vezes eu senti, aquele sândalo que entra na alma, que purifica, nos conecta com o divino e me fez lembrar que está tudo escrito, aquele incenso tinha que estar ali, para eu me conectar com a presença de algo sutil e puro, que é o primeiro encontro com uma família... Sentei tranquila, enquanto pensava sobre tudo isso, e esperava o Felipe se ajeitar para sentar conosco. Alguns minutos, eu estava completamente à vontade, é eu sou um pouco assim, não sou de fazer sala, e tenho um jeito um pouco desbocado e falador. Armadura ou não, acontece de forma natural, quando vejo já estou contando alguma historia, fazendo mímicas e dando boas risadas. No primeiro encontro a gente quebra todos os mitos (ou pelo menos tenta quebrar), é o dia em que o marido te olha com cara de desconfiado, pensa duas vezes em fugir e percebe que a mulher dele esta entrando de cabeça naquela loucura. Resolvi que a Ma tinha que conhecer alguns exercícios de yoga, e é importante para mim, até para conhecer o corpo daquela mulher, tenho a oportunidade de um scanner na pessoa e entender um pouco ela por fora e também por dentro. O yoga pode levar a pessoa para o estado sutil, calma e de grande percepção e autoconhecimento, e para uma gestante nada pode ter mais valor que isso, é o melhor presente que eu posso oferecer a uma mulher nesta fase. O Felipe escolheu participar das aulas, e para minha grande surpresa , ele ficou mais empolgado que a Marcelli, rs. Ela estava flexível, calma, com um ótimo equilíbrio e elasticidade, mas o Felipe por sua vez, apresentou muito mais dificuldade, essa fase gestacional dele, tirou ele do eixo, e ele queria mais, os dois por sinal, adoraram os exercícios. Deixei um livro, dicas e abertura para o próximo encontro. 

A primeira sensação
   
   Quando a gente vai embora, sempre da aquele sentimento gostoso, Doula que é Doula, adoooora uma boa conversa com gestante, pra gente é um prato cheio, e uma mistura de hobbie, paixão e trabalho. Mas quando vamos embora, também algumas vezes, pensamos no que deixamos de falar, no que falamos demais e ai o remédio é escrever sua percepção sobre o encontro, respirar fundo, praticar yoga e acalmar o Ego, acreditar que fizemos o melhor. Mas, verdade seja dita, a gente adora receber um feed back, e naquele dia a tarde, a marcelli me presentiou com um relato no blog dela, do nosso primeiro encontro. Veja aqui (tem o relato do no nosso encontro e o relato de parto)

O trabalho continua

    Eu nunca fui muito internauta, mas desde que o nosso movimento de humanização pegou fogo, eu me tornei apaixonada pela internet. A Má me ajudou muito com tudo isso, eu e ela passamos hooooooras no facebook conversando sobre as dúvidas e desabafos que iam surgindo. Continuamos os encontros presenciais e nossa intimidade só ia crescendo. Fazíamos exercícios com a bola, com rebozo, conversas e íamos direcionando o plano de parto. Nessa altura nos já estávamos super envolvidas e conversando bastante sobre o pré-natal e todas as baboseiras que ela escutava dos médicos do SUS ( "Nossa você engordou muito " ... “esse bebe é grande demais para você" ... " que loucura parir na casa de parto" ) E ela ia cada vez mais acreditando que o parto era dela e não da medicina! Sem perceber os médicos/enfermeiros do SUS ajudam muito no nosso trabalho, eles mesmos vão mostrando que o sistema é falho, onde o próprio médico do SUS condena a escolha da mulher em parir na casa de parto do SUS, onde a própria medicina não acredita na natureza e no corpo da mulher. E ai, é claro que uma mulher consciente, que estuda , lê, dúvida e questiona (como a Marcelli) vai percebendo que o melhor caminho é aquele que ela mesma escolheu. 

O DIA D

      Era sexta-feira a noite, a Marcelli estava com 39 semanas e não se sentia bem, como era primeiro filho, eu estava tranquila (de plantão claro), mas não achava que vinha naquela noite. De qualquer forma, achei melhor passar na casa dela, ver como estava e bater um papinho. Percebi que ela estava bem inchadinha, com alguns incômodos bem típicos de fim de gravidez, também se queixou de algumas cólicas , incomodo na barriga e suuuuper ansiosa para ver sua filhota. A ideia desde sempre era ter o bebê na casa de parto, mas passando as 40 semanas, a casa não aceita mais, então reuni alguns dos meus conhecimentos, e dei uma ajudinha para ver se o trabalho de parto ( TP) começava. Ela sentou na bola, e de lá ela já não saia mais, coloquei algumas sementes na orelha dela (auriculoterapia), escalda pés, em uma bacia improvisada, com aromas de lavanda e canela (respeitando as medidas de segurança - 1%), fiz uma massagem e estimulei alguns pontos da acupuntura. Trabalho feito, deixei ela lá sentadinha, e dei a dica deles comerem comida apimentada e fazer amor (Sexo pode ser o gatilho para o trabalho de parto quando estiver na sua hora. O sêmen contém prostaglandina, hormônio que contribui para a dilatação do colo do útero e induz naturalmente ao trabalho de parto. E, não, não faz mal ao bebê). Tudo isso que fiz, não da para dizer que estimulou o parto a acontecer, o bebê vem na hora que tem que vir, mas as terapias ajudam no andamento do trabalho de parto se for a hora dele acontecer.  2 dias se passaram, era domingo a noite e eu estava esperando eles me ligarem naquela altura. Dormi, deixei meu telefone para carregar e o danado, nada. Eles já tinham o telefone da minha casa, e minha mãe veio ás 4 da manhã, toda animada me falando, “FILHA TEM UM BEBÊ NASCENDO”, falei com o Felipe, a bolsa tinha estourado e ela já estava no chuveiro... Lá fui eu, peguei minha mala de Doula, tomei um café bem forte, fiz uma oração e no caminho fui me preparando. É incrível, no dia do parto é sempre um dia mais tranquilo para mim do que a primeira visita. O parto é um ato natural, suave e não consigo ter em mente, uma doulanda da Casa de Parto, vivendo a mesma experiência que as grávidas que eu acompanho no hospital público. A minha imagem e experiência de parto humanizado, é sempre algo suave, tranquilo, com amor... Então eu sempre vou tranquila, sabendo que o trabalho principal já foi feito em nossos encontros, e agora eu sou quase que uma telespectadora, pois uma mulher emponderada e um marido participativo, fazem do parto deles um evento dos dois, e eu Doula, estou ali mais para preparar o ninho, cuidar daquilo que a gestante já não pode pensar e lembra-la das coisas que ela pode vir a esquecer. Mas trabalho perfeito para mim, é aquele que presenciei a partir do momento em que cheguei na casa deles!Quando eu cheguei, toquei a campanhia certa, abri a porta e a escada era pequena desta vez, eu já conhecia aquele lugar, me senti em casa. Entrei e a Marcelli estava ali, sentada de cócoras, apoiando na bola, tranquila, e focada no seu trabalho. Cheguei preparei o ambiente que ela queria, coloquei as velas, aromas, massagem com camomila romana para aliviar as dores, cromopuntura para ativar, exercícios, carinhos, palavras de conforto. Mas a coisa tava super rápida, quando eu cheguei as 4h da manhã, contei algumas contrações e estavam de 15 em 15, depois de 2 horas de 2 em 2 minutos, e achei melhor a gente ir para a casa de parto, já que o transito já já ia ficar injusto com as mulheres em trabalho de parto na cidade de São Paulo. O Felipe já tinha ligado para a casa de parto e lá fomos nós. No caminho , olhei o que eu tinha de musica e escolhi Ben Harper, a cara deles e eu pensei é minha cara também, eles dois ficaram ali no mundo deles, abraçados e curtindo a chegada da filhota tão amada!Chegamos na casa de parto, o exame foi feito, ela estava com 4 cm de dilatação (nada casa dela eu tinha visto a linha purpura dela, o risco rosinha que fica no caminho do cofrinho - eu aprendi que da para ter uma ideia da dilatação - e achei que ela tinha 3 cm) , pensei comigo que o trabalho de parto estava rápido. Entramos no quarto de parto e lá íamos começar nosso trabalho. A Má quis ir para o chuveiro, onde aliviou suas dores, mas ainda assim sentia suas contrações cada vez mais fortes e mais efetivas. Incentivei-a a vocalizar um "aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa" durante as contrações, era bom para ela e ainda era para nós, porque eu e o Felipe sabíamos que ela estava tendo contração, assim ele sabia como se posicionar e eu podia dar alguma dica se fosse necessário. Praticamente não foi necessário, eles se prepararam bem para o parto, o Felipe sabia o que fazer e a Marcelli de fato entendeu o que significava: PARTO ATIVO (eu dei o livro para ela, é o que sempre indico). Eles viveram cada parte daquele parto, hora eu fazia massagem , apoiava, andava com ela, mas ela e o Felipe foram lindos, e souberam o que fazer. A Má ficou tanto tempo de cócoras, que a enfermeira pedia para ela parar, mudar de posição porque ela não ia aguentar... HAHAHA... Engano da enfermeira, a Ma aguentou, adotou a posição (e eu professora de yoga, não podia esconder o orgulho que sentia dela) . Ela foi forte, com 8 cm foi incentivada a começar a fazer força. Eu particularmente não gosto desta conduta, porque acho que deve esperar a hora natural de fazer a força, chega uma hora que é incontrolável e você faz força, porque o corpo manda. Mas enfim, eu já estava acostumada a ver essa conduta no hospital, a ideia é que quanto mais força você fizer, mas rápido o colo dilata e mais rápido termina o parto. Mas é muito cansativo, a mulher tem que se esforçar muito e chega na hora de fazer força para o bebê sair, você pode estar muito cansada e com o colo mais inchado e dolorido. Mas a Má, é quase um caso a parte em vários sentidos, além dela dilatar 1 cm por hora, e aguentar ficar de cócoras praticamente as 10 horas de TP, ela ainda aguentou fazer toda essa força, não me lembro quanto tempo durou até a dilatação total, mas quando dilatou, depois de 20 minutos, sentada no banquinho de cócoras, apoiada em seu marido (que fez força junto com ela) , colou seu pé sobre o colo da enfermeira, e fez nascer a OLÍVIA. Bochechuda, vermelha, coberta com vernix, e soltou seu choro de menina, tímido, como um viajante que chega cansado, e foi recebida desta forma, respeitada, ela deitou no colo da mamãe, a família entrou para ver o bebe que chegou, todos babamos um pouquinho e todo mundo foi acompanhar a Lolis nos seus primeiros exames. Lá ficou eu, a Má, o resto da equipe e sua Mãe (vovó babona). Apoiamos a Má a expulsar a placenta, foi rápido e indolor. Trouxeram a Olivia de volta, todos da família se reuniram em volta do momento sagrado que é a primeira mamada. A família estava ali, completa, feliz, em êxtase. A Marcelli tinha virado mulher, mãe. A família já era outra, com outros olhares e sentimentos. Eu vi naquela hora que todo mundo tinha renascido. Inclusive eu, como doula, como mulher... Depois de alguns minutos assim, senti que era hora de ir embora, lá eu deixei aquela família e sabia que quando eu voltasse para visitar na casa de parto, eu não ia encontrar só o Felipe, a Marcelli e a Olivia, eu sabia que ia encontrar a Família Garcia, a família deles, e só deles! A minha relação hoje com a Má, não é apenas de doulanda, nós somos amigas, nos amamos, temos respeito e admiração uma pela outra, temos planos juntas, somos hoje ativistas da mesma causa. Nasceu Olivia e nasceu a minha grande amizade com a Marcelli Zillo.Com este depoimento espero não gerar ciúmes nas outras Doulandas (são todas especiais). Mas este relato é uma homenagem as verdadeiras amizades que nascem destes momentos tão sagradosEste relato é para você, Marcelli Zillo, minha amiga e eterna professora!










As longas horas fazendo força e o apoio integral do companheiro!











DOULA ( de verdade) DE PRIMEIRA VIAGEM


.Meu relato do parto da Mariana Valente, mãe de Maria Valentina










    

 Já fazia um tempo eu estava estudando sobre gestação, yoga para gestante, terapias e tal, mas tudo estava na base da teoria. No ano de 2010 eu fui passar as férias na Bahia , onde conheci minha futura amiga e doulanda Mariana. Eramos um grupo de jovens que vistos de longe pareciam hippies, passamos os dias nas cachoeiras da Chapada da Diamantina, participamos de um festival cultural muito lindo em Lençois e dividimos a mesma casa.  Naquela altura, já eramos amigas e compartilhavamos roupa, casa, comida e boas risadas. A Mari e o Juan logo de cara me encataram pela cumplicidade e amizade que existiam entre os dois, além de muito sol, carinho e amor. Um dia a Mari me contou que ela e o Juan queriam um filho e estavam tentando lá na Bahia, ela pediu para eu ir com ela procurar por exame de sangue, não me lembro se fui junto, mas me lembro que o resultado deu negativo, e ela claro ficou arrasada e disse : "Como alguem escreve negativo e pronto... que sem coração.. nem para falar - Não foi desta vez, continue tentanto..." . Era lindo, uma menina de 19 anos, louca para ser mãe. Assiste seu relogio biológico tocando sobre o calor bahiano, embaixo de coqueiro e com muita água de coco! Tudo isso fez com que a Maria aceitasse o convite da nova família e chegasse em lindas  linhas no teste de gravidez. Cheguei em São Paulo antes da Má, ela continuou na Bahia, e assim que chegou a grande notícia: "Fê, você vai ser minha Doula, to grávida!"




Na Bahia eu conversei muito com Mari, sobre parto humanizado, terapias naturais e tudo sobre a partolandia. Ela se empoderou antes mesmo de estar grávida, já sabia o que queria, e seria um parto humanizado com direito ao protagonismo dela, do jeito que ela queria. O tempo foi passando, nos primeiros messes não pude estar tão perto, mas conversamos muito pela internet , passei para a Mari uns contatos em Sorocaba, e ela acabou caindo nas mãos certas, com a Gisele Leal, ativista de sorocaba ( como ela mesma me disse). Naquele momento eu sabia que tinha ganhado dois presentes, meu primeiro trabalho com parto fora do hospital, e o trabalho em equipe com Gisele e Gleise. Nos Segundo Trimeste eu fazia visitas para a Mari em Sorocaba, acabei até atendendo uma amiga dela que também estava grávida, treinamos posições,massagens,reflexologia,reiki,auriculoterapia... Nossa, a Mari foi minha primeira cobaia e acabou recebendo de tudo um pouco.  No Terceiro Trimestre levei ela para conhecer alguns lugares em Sampa, em um Hospital e depois na Casa de parto de Sapopemba, onde ela se sentiu segura e definitinvamente em casa.  Dai toda semana ela vinha pra Sampa e eu levava ela para a Casa de Parto , sempre junto do maridão , super pai e amigo, Juan. As visitas eram otimas, nos podiamos conversar e matar a saudade.

* sinto tanta saudade daqueles domingos em que a Maria vivia na barriga quentinha da mamãe!

   Na nossa ultima ida a casa de parto, eu fui buscar a Mari na rodoviaria e ela já estava sentindo contrações, fomos para Sapopemba e no caminho as contrações estavam de 20 em 20. Chegamos na casa de parto, a Mari estava sem dilatação e a enfermeira mandou ela voltar. Na volta até Sorocaba as contrações estavam de 5 em 5, com duração de 40 segundos, e para mim ela já estava em TP. Deixei a Mari em casa, coloquei umas sementes na sua orelha e deixei meu livro de Reflexologia para o juan fazer nela. Dormi, acordei, comecei a viver meu dia, dei uma olhadinha básica no FB e ai a Gisele havia me mandado uma mensagem dizendo que estavam na casa de parto e que a Mari estava em TP. Fui correndo , super feliz e até esqueci minha mala de doula. Rs.. Tudo bem, doula de primeira viagem é assim mesmo. 



O Trabalho de parto: 
Cheguei na Casa de Parto por volta das 11 horas da manhã e lá estava minha linda e meiga amiga Mari, deitada na cama, com as doulas segurando sua mão. Não sabia direito como me comportar, porque tinham outras doulas ali, mais experientes e que já estavam acompanhando o TP. Eu até então só tinha acompanhado partos em hospitais, a base de ocitoccina e episiotomia,  achei que eu ia dar mais apoio emocional, sei lá! Mas fui super bem recebida e logo logo entrariamos em uma conexão muito forte. 

Falei com a Mari um pouquinho, li  o prontuario e logo levantamos a Mari e saimos para passear. O trabalho de parto foi longo, cheguei na casa de parto e mari estava com 2 cm de dilatação , tinhamos muito trabalho pela frente. Tinha alguns materiais de terapias comigos, e logo comecei a aplicar cor azul no ponto BP6 da acupuntura, assim ela ficaria mais calma e ainda sim ajudaria a dilatar, troquei as sementes da orelha, estimulei, fiz massagem para aliviar a constante dor  nas pernas que Mari sentia, coloquei uma musica linda de reiki e dei Óleo essencial de limão Siciliano para o Juan relaxar. Eu e a Gleise começamos a aplicar reiki na Mari, ela ia se acalmando , aceitando o processo e se entregando ao parto. Vi minha amiga menina se transformar em uma mulher e trabalhando pela Maria. Ela não queria comer nada, beber nada, não queria niguem tocando nela, não queria andar, não queria nada, mas ai a super Gisele entrou em ação, falou algumas palavras empoderadoras e  ela aceitou,  ali eu sabia que a Mariana Valente tinha nascido, só faltava a Maria nos braços. 

Nós Doulas fizemos um circulo e a Mariana ficava no meio, nessa hora ela ficava muito bem e suas contrações ficavam reguladas, quando ela saia do círculo, o padrão do parto mudava, então ela ficou entre nós por um bom tempo, onde a gente canaliza boas energias e canções para ela. Andamos pelo jardim da casa de Sapopemba, embaixo de uma árvore de pitangueira, com os pés no chão, ali a Mari podia captar toda a energia da terra e se conectar com seu eu mais intuitivo. Aquela hora podiamos ouvir uma musica relaxante que vinha de algum lugar, não sabiamos da onde, mas ai o motorista da ambulância apareceu, com um celular na mão, uma musica linda e contando as contrações pra gente. Em que hospital você tem isso? 

A Gisele com sua experiência pessoal sabia exatamente o que dizer na hora certa. Quando parecia que Mariana pensava em desistir ( ela não falou em nenhum momento isso) logo vinha a Gi e falava  tais palavras magicas, a Gleyse se entregou lindamente no reiki e nas visualizações e eu nas minhas terapias. Mas chegou uma hora ( essa hora tinha que chegar) que a Mari disse, CHEGA!!! Não quero nada disse... Nós Doulas nos olhamos, demos aquela risadinha de "Chegou a hora"e demos espaço para ela trabalhar, a Mari estava na partolândia e parou de pensar no cachorro sem comida, no visinho que não atendia o tel, no Juan, nas Doulas.... Ela estava na partolândia mesmo, empoderada e ia fazer a Maria nascer. Continuamos nosso trabalho , mas ela sabia o que fazer naquela altura do campeonato.
 Depois de algum tempo trocou o turno do hospital, entrou outra parteira e outro padrão de parto. Colocamos ela na banheira e ali , eu e a Mari vivemos um momento muito gostoso, enquanto ela dormia entre uma contração e outra ( que já estavam dando uma trégua para ela) , eu enchia o balde com agua morna e jogava sobre o peito dela, ela estava calma e descansando para o parto. Depois de algum tempo assim, ela olhou para toda a equipe e disse: " Me da o suco, a Maria ta precisando ", pegou o suco e tomou inteiro ( durante todo o TP , ela não tomou nada, nao comeu nada). A Maria realmente precisava e ela como mãe guerreira e intuitiva que é, soube ouvir seu corpo e sua filha, fez tudo certo e do jeito dela. Ela tomou o suco e disse, a Maria ta vindo, começou a fazer força, muita força, feito uma leoa, o Juan já não conseguia esconder suas lágrimas de orgulho e eu, Doula babona que sou, chorei vendo minha amiga ser tão forte, estava tão orgulhosa dela. 

        A Mari gritou, fez força e a Maria nasceu, da água para a água, no dia 7 de novembro, as 23:24 depois de intensas 30 horas de trabalho de parto. Ali eu nasci junto com a Maria, nasceu em mim a Doula apaixonada que sou. Nasceu uma familia, nasceu amizade, nasceu uma nova vida para todos nós que participamos deste parto .

Agradecimento especial para a Mari, que confiou em mim, me deu a chance de entrar para este universo com o pé direito. Agradeço pela força e por ser uma mãe tão linda, que me ensina tanto.




Juan, por ter sido um homem tão forte e parceiro, por participar de todas as etapas da vida de sua filha e por ter ter sempre apoiado sua mulher. 



As doulas lindas que me ensinaram tanto. 





A casa de parto de Sapopemba pelo trabalho IMPAR que fazem , por tratarem a mulher com tanto respeito e amor! 
Primeiro dia da Maria fora da casa de parto.
Abençoada pela energia do Templo Zulai!



Eu , Mari e Maria. 



3 comentários:

  1. Que lindo, fiquei emocionada, Fê! Por saber mais detalhes desta história tão linda, e saber que vi o começo de tudo... Amo vcs...

    ResponderExcluir
  2. Fê! muito lindo seu blog! cada relato de tirar lágrimas! fizemos o curso da Janet juntas, sou sua xará, mãe da Íris, lembra?...tudo de bom para vc! um beijo grande!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Querida! Que legal vc por aqui! Fico mto feliz com seu recado! Claro q lembro de vc e da sua pequena princesa " doma simpatia". Espero a estejam mto bem! Vamos trocando infos.. Te add. No facebook! Beijos queridos!

      Excluir